Fui a primeira a acordar – como habitual, aquando das noitadas em minha casa. Olhei para o relógio: meio-dia e quarenta e dois. Bem, apesar de ser um pouco tarde, justificava-se, tendo em conta que estivéramos a falar até às seis e tal da manhã (hora em que se não nos deitássemos íamos acabar por adormecer enquanto falávamos – fora uma decisão sensata, até). Entrei para a minha casa-de-banho para tomar um banho relaxante (que bem precisava), e quando cheguei ao quarto, já todas elas estavam vestidas e despachadas para ir embora.
– Onde é que vocês pensam que vão já a esta hora? – Estava incrédula com a atitude delas, não era algo muito… normal.
– Nós pensamos que vamos sair desta casa muito rapidamente.
– Porquê!?
– Porque tu estás a precisar de te divertir! E abstrair de todo esse mundo que te rodeia, e que te baralha, e que… – Lá começava a Anna com as suas divagações.
– Okay, já percebi, já percebi! – E deixei-me rir com gosto.
* * * * *
Acabei de me arranjar e fui com elas até às suas casas para que cada uma pudesse tomar um duche rápido e trocar de roupa. Como sempre, foi a Ann que levou mais tempo:
– Anna, estamos à tua espera, caso não tenhas reparado! – Gritei.
– VOU JÁ!
Cinco minutos depois, aparecia ela à porta da casa-de-banho já com a sua maquilhagem bastante natural e com o seu longo cabelo ruivo apanhado num rabo-de-cavalo. Começou a esgravatar no seu roupeiro à procura da roupa que lhe daria a aparência que pretendia para o dia de hoje – o que se viria a tornar uma tarefa demorada, como seu hábito.
* * * * *
Era um dia estranho e mórbido, e o ar estava carregado de electricidade: haviam previsões de trovoada para essa tarde. No entanto, nada as demovia daquela sua ideia de sair um pouco para que eu me distraísse.
Fomos para um parque que havia perto das nossas casas – que assim, se começasse a chover ou a trovejar, punhamo-nos em casa em dois minutos e evitávamos uma valente constipação – e, inadvertidamente, eu fiquei sentada no baloiço ao mesmo tempo que as via comportarem-se que nem crianças enquanto andavam no escorrega. Era tão simples relembrar os bons momentos da infância que fora passada maioritariamente ao lado daquelas raparigas. E isso fazia-me feliz – elas sabiam disso –, por isso, é que sempre que uma de nós não estava tão bem como deveria voltávamos lá e lembrávamo-nos do quanto nós quiséramos crescer e ser meninas grandes com namorados: oh como éramos inocentes e ignorantes.
Agora, olhando para elas, pensava em como era bom ser criança e nas saudades que tinha de o ser. Sentia saudades de não ter preocupações além de brincar.
– Hey Mich!
– Olá Landon.
– Estás bem?
– Queres que te diga a verdade ou que te minta para te sentires bem contigo próprio?
– Hãn? Mich, o que se passa?
– És um idiota, Landon, um verdadeiro idiota.
– Mich, vais explicar-me o que se passa ou vais continuar a insultar-me? – Agora, ele olhava para mim. Eu via-o apenas pelo canto do olho, captara-lhe a atenção.
– O que é que tu queres? Responde-me a isso e eu depois digo-te o que se passa.
– Sinceramente? Sinto a tua falta.
– Que bom – olhou para mim de forma esperançosa. – É que se queres que te diga, eu nem sei se sinto a tua. Já deixei de saber há algum tempo.
– Então deixa-me relembrar-te!
– Não quero.
Finalmente descolei os olhos do chão e olhei em frente. Reparei que elas já não se estavam a divertir. Em vez disso, estavam a olhar para mim de forma preocupada.
Ele aproximou-se de mim, de certo na esperança de que eu me virasse para ele e o olhasse nos olhos – pois bem, estava com azar. Notei que ele estava em choque com a minha reacção à sua presença.
– O quê!?
– Isso mesmo. Não quero que me relembres – desta vez, olhei para ele, vi o choque e a fúria de um orgulho ferido aumentarem diante dos meus próprios olhos. – Se me tivesses dito isso anteontem, responder-te-ia sem qualquer dúvida que, fogo, eu queria que me relembrasses! No entanto, depois daquilo que vi ontem no Parque dos Poetas, não preciso que me devolvas aquilo que esqueci! – Não estavas à espera pois não? Achavas que podias chegar-te ao pé de mim e ter-me de volta!? Como te enganaste. – Está muito melhor assim.
Levantei-me e, com uma expressão de orgulho no rosto enquanto olhava para ele, chamei por elas:
– MENINAS? – Olharam para mim, e eu sorri. – Vamos lanchar – elas vieram, e fui-me embora sem sequer olhar para trás.
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