Afastei-me dele, de volta à carruagem onde estava antes com elas. Como é que ele fora capaz de ver tudo aquilo no meu olhar – de me ler a mente! E porque é que se preocupava comigo daquela forma? E mais importante: o que é que ele quisera dizer com “E te garanto que vou lutar por te fazer esquecer e seguir em frente. Comigo”!? Odiava com todas as minhas forças a situação em que me colocara (e por culpa de ambos!). Eu não queria, de todo, voltar a encher a minha cabeça com a questão “rapazes”, muito menos no início de um novo ano escolar, no início do SECUNDÁRIO!
– Uh, conta-nos tudo!
– Ai meninas, por favor quando chegarmos a minha casa e já nos tivermos enfardado em pizzas, gomas e gelados, eu prometo que conto tudinho! – Eu estava à beira do desespero, e adivinhava-se uma valente dor de cabeça para o dia seguinte. – Mas neste momento, estou a precisar de uma boa dose de calorias…
– Então? Correu mal!?
– Se querem que vos diga… nem eu sei bem.
* * * * *
Saímos logo na paragem seguinte, e eu pedi-lhes desculpa porque naquele momento eu precisava definitivamente de ouvir alguma música para tentar meter as minhas ideias em ordem. As notas, compassos e pausas sempre me tinham ajudado a marcar um ritmo na minha vida, nem que fosse apenas nos meus pensamentos – tendo em conta que o controlo da minha própria vida estava constantemente a fugir-me por entre os dedos! Parecera-me ouvi-las a comentarem o corpo do Ethan e o pouco que haviam visto da sua personalidade. Achei que a minha audição também captara algumas conjecturas acerca do que se passara na outra carruagem, no entanto – apesar de me interessar – não liguei muito ao que elas diziam, e continuei alheada na minha música.
* * * * *
Chegámos a casa cerca de quarenta e cinco minutos depois. Fôramos comprar umas pizzas à PizzaHut, e gomas e gelados a um mini-mercado que havia perto da minha casa. Eu nem chegara a participar na escolha daquilo que viria a ser o nosso jantar e respectivas sobremesas – tal não era o meu estado decadente! Até tinham passado pelo clube de vídeo para ir buscar um filme de terror, porque apesar de eu ser mais adepta de comédias românticas, elas tinham a noção que não seria um dia adequado a uma escolha dessas.
– Agora que já te enfardaste de pizza, gomas e gelado, achas que podes contar-nos finalmente que raio se passa contigo!? – Claro que seria a Cayt a abordar o assunto de forma tão frontal: não era algo que me surpreendesse minimamente!
– Oh, esqueçam lá isso…
– Deves de estar mesmo à espera disso – Era a vez do contra-ataque da Anna.
– Pois Mich, desta vez nem eu te vou servir de escapatória, sorry – E tu, Dee, és uma traidora!
– Ora… que querem que eu diga? – E deixei-me rir. Era mesmo daquilo que eu estava a precisar: não havia nada como a rotina de quatro amigas a contarem novidades. – Sabem que eu só funciono com perguntas! – E coloquei o meu melhor sorriso inocente.
Os olhares que todas elas me lançavam sugeriam uma batalha sem bandeira branca, o que implicava: lágrimas, desabafos, lágrimas, piadas, sorrisos, lágrimas novamente, mais desabafos… Bem, ao menos teríamos toda uma noite para acabar com aquele ciclo vicioso que eram as minhas mágoas e preocupações.
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