Capítulo 13 – Desabafos

13. Desabafos

Afastei-me dele, de volta à carruagem onde estava antes com elas. Como é que ele fora capaz de ver tudo aquilo no meu olhar – de me ler a mente! E porque é que se preocupava comigo daquela forma? E mais importante: o que é que ele quisera dizer com “E te garanto que vou lutar por te fazer esquecer e seguir em frente. Comigo”!? Odiava com todas as minhas forças a situação em que me colocara (e por culpa de ambos!). Eu não queria, de todo, voltar a encher a minha cabeça com a questão “rapazes”, muito menos no início de um novo ano escolar, no início do SECUNDÁRIO!

Uh, conta-nos tudo!

Ai meninas, por favor quando chegarmos a minha casa e já nos tivermos enfardado em pizzas, gomas e gelados, eu prometo que conto tudinho! – Eu estava à beira do desespero, e adivinhava-se uma valente dor de cabeça para o dia seguinte. – Mas neste momento, estou a precisar de uma boa dose de calorias…

Então? Correu mal!?

Se querem que vos diga… nem eu sei bem.

* * * * *

Saímos logo na paragem seguinte, e eu pedi-lhes desculpa porque naquele momento eu precisava definitivamente de ouvir alguma música para tentar meter as minhas ideias em ordem. As notas, compassos e pausas sempre me tinham ajudado a marcar um ritmo na minha vida, nem que fosse apenas nos meus pensamentos – tendo em conta que o controlo da minha própria vida estava constantemente a fugir-me por entre os dedos! Parecera-me ouvi-las a comentarem o corpo do Ethan e o pouco que haviam visto da sua personalidade. Achei que a minha audição também captara algumas conjecturas acerca do que se passara na outra carruagem, no entanto – apesar de me interessar – não liguei muito ao que elas diziam, e continuei alheada na minha música.

* * * * *

Chegámos a casa cerca de quarenta e cinco minutos depois. Fôramos comprar umas pizzas à PizzaHut, e gomas e gelados a um mini-mercado que havia perto da minha casa. Eu nem chegara a participar na escolha daquilo que viria a ser o nosso jantar e respectivas sobremesas – tal não era o meu estado decadente! Até tinham passado pelo clube de vídeo para ir buscar um filme de terror, porque apesar de eu ser mais adepta de comédias românticas, elas tinham a noção que não seria um dia adequado a uma escolha dessas.

Agora que já te enfardaste de pizza, gomas e gelado, achas que podes contar-nos finalmente que raio se passa contigo!? – Claro que seria a Cayt a abordar o assunto de forma tão frontal: não era algo que me surpreendesse minimamente!

Oh, esqueçam lá isso…

Deves de estar mesmo à espera disso – Era a vez do contra-ataque da Anna.

Pois Mich, desta vez nem eu te vou servir de escapatória, sorry – E tu, Dee, és uma traidora!

Ora… que querem que eu diga? – E deixei-me rir. Era mesmo daquilo que eu estava a precisar: não havia nada como a rotina de quatro amigas a contarem novidades. – Sabem que eu só funciono com perguntas! – E coloquei o meu melhor sorriso inocente.

Os olhares que todas elas me lançavam sugeriam uma batalha sem bandeira branca, o que implicava: lágrimas, desabafos, lágrimas, piadas, sorrisos, lágrimas novamente, mais desabafos… Bem, ao menos teríamos toda uma noite para acabar com aquele ciclo vicioso que eram as minhas mágoas e preocupações.

Capítulo 12 - Suspiros



Paralisei. A proximidade da sua boca da minha era demasiado pequena e fazia o meu coração bater descompassadamente. A sua respiração, ao contrária da minha, estava num ritmo regular, parecia que nada daquilo o iria afectar – o que eu tinha a certeza que não aconteceria comigo. Se ele me beijasse, eu iria começar a pensar demasiado nele, nos seus olhos angelicais e na forma como o seu sorriso era capaz de me fazer suspirar porque, apesar de eu já pensar neles, passaria a pensar de forma muito mais intensa e constante. Por isso, mais valia evitar a dor e sofrimento que acabaria por sentir no futuro, quer aquilo avançasse quer não.
Levantei a cabeça e ele presenteou-me com um beijo no maxilar que, muito sinceramente, não sei se terá afectado menos do que teria afectado o encosto dos seus lábios aos meus.
Pára – pedi, suspirando.
Porquê? – perguntou enquanto me beijava na face.
Porque... porque... porque eu preciso que pares.
Era mentira. A minha boca secava cada vez mais e a saliva faltava-me, eu queria os seus lábios nos meus, queria senti-lo comigo, mas não queria. Sentia o mundo a andar a roda, tremia e pensava no que seria melhor para mim – não para os desejos do meu corpo, mas sim aquilo que seria o mais adequado para a minha mente.
Não me parece que precises – sussurrou-me.
Preciso, porque isto não me faz bem – afastei-o com as duas mãos.
Olhei-o nos olhos e vi um misto de emoções estampadas no seu rosto: desejo, medo e algo mais que não conseguia decifrar - certamente que a minha expressão não estaria melhor. Sentia-me esgotada, aquele beijo retirara-me as forças que ainda me restavam para combater os meus pensamentos em relação a ele, e agora, de rompante (como castigo pelas minhas próprias reprimendas) sentia-me cambalear com a sobrecarga de emoções que me impeliam na direcção dos seus lábios. Acabei por ceder um pouco e ele amparou-me.
Estás bem? – Os seus olhos revelavam preocupação. Eu nunca pensara que uma situação destas iria realmente ter qualquer tipo de impacto nele como se estava agora a revelar e…
Pára Michelle, pára com isso imediatamente.” A minha consciência começava a avisar-me dos perigos que eu estava a correr ao pensar em tudo aquilo que se estava a passar naquele preciso momento. Era realmente um conselho bastante sensato, tendo em conta o meu historial amoroso (que não é muito grande, deixem-me que acrescente) de sofrimento e entrega.
Estou óptima. Agora, se não te importas, posso voltar para o pé das minhas amigas? – Estava a começar a irritar-me a sério.
Eu não gostava da situação a que me estava a sujeitar, ainda por cima sem pára-quedas. Eu não estava preparada para uma curte ou fosse o que fosse que ele pretendia; estava farta de rapazes, eles davam demasiado trabalho, e a única coisa que eu realmente pretendia era livrar-me das preocupações, o que, obviamente, não iria acontecer se me envolvesse de alguma forma com um rapaz como o Ethan – alguém que eu não conhecia absolutamente de lado nenhum, que entrara de rompante na minha vida e que já começava a causar alguma turbulência sem sequer me conhecer.
Tu não estás óptima, Michelle. Tudo bem: eu realmente não te conheço, não precisas de dizer isso, porque eu tenho a noção – disse-me com um olhar censurador –, no entanto, o facto de eu realmente não te conhecer, não me impede de olhar para ti e ver as tuas emoções espelhadas nos teus olhos – tentei virar a cara para o outro lado: não gostava de ser transparente, mas ele impediu-me. – E não vale a pena olhares para o outro lado e virares-me a cara, porque o que tu tens aí eu já entendi, não podes apagar da minha mente aquilo que eu já vi que se passa na tua. Provavelmente estás ressentida com alguma situação amorosa que tenhas tido antes, mas eu não posso fazer nada em relação a isso, pelo menos, sem a tua ajuda, não consigo. E te garanto que vou lutar por te fazer esquecer e seguir em frente. Comigo.