Apanhámos um táxi para a estação de comboios, porque muito honestamente não me apetecia ir a lado nenhum tendo em conta o que se passara. Vê-lo ali com ela… fora simplesmente horrível, embora por um lado tenha sido bom visto que poderia ser que assim eu me apercebesse finalmente de que ele não valia a pena, e de que estava na hora de eu também seguir em frente, por outro foi mau porque não era por isso que deixava de custar.
Enquanto íamos no táxi, passámos por uma avenida cheia de pessoas que se passeavam pelo passeio em busca da montra da loja que as iria convidar a entrar. Como se fosse um mundo mágico de roupas, jogos e sapatos. Afinal de contas, estávamos perante uma geração consumista da qual nós próprias fazíamos parte; porque por muito que o tentemos negar, nunca nos cingimos ao estritamente necessário - há sempre uma qualquer blusa que seria mesmo perfeita para uma dada ocasião ou até mesmo um doce que nós afirmamos que nos irá reduzir o stress acumulado mas que na verdade é só para nos satisfazer a gulodice. Por muito que olhemos para uns ténis de desporto e pensemos “Fogo, estou mesmo a precisar de uns ténis novos para ir correr” porque os outros já estão muito velhos; é muita vez - mesmo que inconscientemente - apenas porque outro indivíduo qualquer com que nos damos também tem uns ténis daqueles.
Estava a ser consumida pela minha própria necessidade. Por causa de Landon, eu deixara de ser quem era, de agir como agia e até deixara de frequentar certos locais por tentar evitar memórias que teimavam em aparecer. E isso tinha de terminar! Já chegava de me limitar por causa de uma coisa que pertencia ao passado, estava definitivamente e inquestionavelmente na hora de pôr termo à minha própria prisão.
- Já chega - interrompi o silêncio constrangedor que se formara no táxi.
- Hãn? - Perguntaram-me.
- Chega. Simplesmente, chega! Esta situação tem de acabar. Eu já não quero pensar nele. Estou farta dos meus sentimentos e de mudar as minhas atitudes por causa dele. Chega de deixar que ele controle a minha vida, mesmo sem ele próprio saber. Isto tem de acabar!
Naquele pequeno meio de transporte que nos levava de encontro ao comboio, que nos levaria para minha casa, eu estava no meio do assento de trás e elas as três fitaram-me perplexas.
- Finalmente Michelle!
- Sim, concordo! Estava a ver que não caías em ti. Demorou!
- Esta é a nossa Michelle Davis! - Concluiu a Cayt.
Sentia-me melhor. Ainda enquanto prosseguíamos o nosso caminho, voltei a olhar pela janela e a multidão continuava a mesma. A minha decisão não iria afectar o mundo lá fora. Mas afectava-me a mim - e esse facto era quanto bastava para que me desse a oportunidade de ficar feliz e em paz comigo mesma.
Aquele vislumbre dele com outra rapariga fizera-me ver que por muito que eu teimasse em não seguir em frente e em dizer que seria demasiado complicado, eu não teria outra hipótese. Afinal de contas: ele próprio seguira. E como é que eu poderia agarrar-me a um passado do qual já não havia sequer uma ponta solta? Entre nós ficara tudo esclarecido e continuávamos bons amigos (claro que de forma diferente, mas é praticamente impossível continuar tudo igual - e muito menos melhor) - esclarecêramos tudo o que havia a esclarecer.
Realmente, não sabia do que me queixava, até porque havia situações bem piores em que as questões nunca chegavam a desaparecer.




