Capítulo 10 - Parou



Apanhámos um táxi para a estação de comboios, porque muito honestamente não me apetecia ir a lado nenhum tendo em conta o que se passara. Vê-lo ali com ela… fora simplesmente horrível, embora por um lado tenha sido bom visto que poderia ser que assim eu me apercebesse finalmente de que ele não valia a pena, e de que estava na hora de eu também seguir em frente, por outro foi mau porque não era por isso que deixava de custar.
Enquanto íamos no táxi, passámos por uma avenida cheia de pessoas que se passeavam pelo passeio em busca da montra da loja que as iria convidar a entrar. Como se fosse um mundo mágico de roupas, jogos e sapatos. Afinal de contas, estávamos perante uma geração consumista da qual nós próprias fazíamos parte; porque por muito que o tentemos negar, nunca nos cingimos ao estritamente necessário - há sempre uma qualquer blusa que seria mesmo perfeita para uma dada ocasião ou até mesmo um doce que nós afirmamos que nos irá reduzir o stress acumulado mas que na verdade é só para nos satisfazer a gulodice. Por muito que olhemos para uns ténis de desporto e pensemos “Fogo, estou mesmo a precisar de uns ténis novos para ir correr” porque os outros já estão muito velhos; é muita vez - mesmo que inconscientemente - apenas porque outro indivíduo qualquer com que nos damos também tem uns ténis daqueles.
Estava a ser consumida pela minha própria necessidade. Por causa de Landon, eu deixara de ser quem era, de agir como agia e até deixara de frequentar certos locais por tentar evitar memórias que teimavam em aparecer. E isso tinha de terminar! Já chegava de me limitar por causa de uma coisa que pertencia ao passado, estava definitivamente e inquestionavelmente na hora de pôr termo à minha própria prisão.
- Já chega - interrompi o silêncio constrangedor que se formara no táxi.
- Hãn? - Perguntaram-me.
- Chega. Simplesmente, chega! Esta situação tem de acabar. Eu já não quero pensar nele. Estou farta dos meus sentimentos e de mudar as minhas atitudes por causa dele. Chega de deixar que ele controle a minha vida, mesmo sem ele próprio saber. Isto tem de acabar!
Naquele pequeno meio de transporte que nos levava de encontro ao comboio, que nos levaria para minha casa, eu estava no meio do assento de trás e elas as três fitaram-me perplexas.
- Finalmente Michelle!
- Sim, concordo! Estava a ver que não caías em ti. Demorou!
- Esta é a nossa Michelle Davis! - Concluiu a Cayt.
Sentia-me melhor. Ainda enquanto prosseguíamos o nosso caminho, voltei a olhar pela janela e a multidão continuava a mesma. A minha decisão não iria afectar o mundo lá fora. Mas afectava-me a mim - e esse facto era quanto bastava para que me desse a oportunidade de ficar feliz e em paz comigo mesma.
Aquele vislumbre dele com outra rapariga fizera-me ver que por muito que eu teimasse em não seguir em frente e em dizer que seria demasiado complicado, eu não teria outra hipótese. Afinal de contas: ele próprio seguira. E como é que eu poderia agarrar-me a um passado do qual já não havia sequer uma ponta solta? Entre nós ficara tudo esclarecido e continuávamos bons amigos (claro que de forma diferente, mas é praticamente impossível continuar tudo igual - e muito menos melhor) - esclarecêramos tudo o que havia a esclarecer.
Realmente, não sabia do que me queixava, até porque havia situações bem piores em que as questões nunca chegavam a desaparecer.

Capítulo 9 - Parque dos Poetas



- Bem Cayt, isso é que é rapidez - começou a Deanna a gozar.
- Sim, é verdade. Não nos queres dar assim umas dicas ó miss?
- Realmente, era uma boa ideia dona Caitlyn… - os nossos olhares denunciavam-nos a léguas.
Já estávamos quase a chegar ao Parque dos Poetas, e estávamos super bem-dispostas, até que elas começaram a dar desculpas bastante esfarrapadas, diga-se de passagem, para mudarmos de caminho, e eu questionava o que se passava, mas não conseguia arrancar nenhuma resposta: só desculpas atrás de desculpas.
- Mas porque é que não havemos de ir por ali? Vamos sempre! - Continuava eu a insistir.
Meti-me à frente delas e parei, tentaram virar-me para o outro lado mas já não foram a tempo. Vi-o agarrado a ela, sentados num banco. Ela estava ao colo dele e estavam-se a beijar.
- Okay, vamos embora daqui - e foi desta forma que a Deanna me agarrou pelo braço e me foi empurrando dali para fora juntamente com elas.
Estava apática e sem reacção. Não sabia ao certo o estado do meu coração nem da minha mente. Estava simplesmente… não sei. O meu coração, por um lado, quase parecia parado mas por outro estava acelerado, demasiado acelerado para a minha própria saúde e sanidade mental. Queria sentir fúria ou tristeza ou até felicidade ou fome de vingança. Queria sentir alguma coisa! Qualquer coisa ao invés daquela sensação de vazio que me assombrava a mente.
Chegámos a um banco que era provavelmente na outra ponta do parque, mas muito honestamente eu não sabia nem queria saber. Não sabia quanto tempo tinha passado desde que os tinha visto juntos, simplesmente sentia um turbilhão de emoções e isso estava a fazer-me dores de cabeça. A sensação de vazio passara e agora em vez disso tinha uma enorme dor de cabeça.
- Quero ir para casa, meninas.
- Não Michelle, não vais sozinha para casa nesse estado!
- Por favor, preciso de descansar.
- Então liga à tua mãe a dizer que nós vamos lá dormir! - Reclamou, repentinamente, a Anna. - É que nem penses que nós te vamos deixar assim!
- Está bem.
Peguei na minha mala e quase a revirei ao procurar o telemóvel, se por a caso deixasse cair as coisas, já seria a segunda vez no mesmo dia. Quando o encontrei tinha uma mensagem do Ethan: “Quero estar contigo, Michelle. Dá-me uma oportunidade.”; depois logo respondia, neste momento não era capaz - muito menos tendo em conta aquilo que acabara de acontecer.
- Estou? Mãe?
- Diz filha, que se passa?
- Era só para perguntar se a Deanna, a Anna e a Caitlyn podem ir dormir aí a casa esta noite.
- Claro que podem querida, mas quando vierem para casa passem por qualquer lado a comprar o jantar, porque eu não tenho aqui comer em condições para dar às visitas. Depois quando chegares eu dou-te o dinheiro, está bem?
- Okay mãe, obrigada!
- Mas está tudo bem, de certeza?
- Sim mãe…
- Está bem, então até já, juízo!
- Até já. - Desliguei a chamada.
Olharam todas para mim e deram-me um daqueles abraços que parece que resolvem todos os nossos problemas, parece que simplesmente desaparecem como se de um truque de magia se tratasse. Infelizmente, eles não desaparecem assim tão facilmente…

Capítulo 8 - O Café



Quando o comboio chegou ao seu destino já elas estavam à minha espera.
- Michelle! Finalmente! Eu liguei-te para casa a ver de ti, mas a tua mãe disse que ainda não tinhas descido. Já devia de ter calculado que ainda estavas a dormir, não é? - Provocou-me a Deanna.
- Desculpe lá se estivemos acordadas até tarde - amuei.
- Ah, e já agora: - vinha aí um dos famosos sermões da Caitlyn - lá por as meninas se deitarem tarde não quer dizer que todas as outras também se deitem. Porque há pessoas, tipo eu, que se deitam cedo.
- Mas respondeste - e começámo-nos todas a rir.
- Oh, tiveram sorte - piscou-nos o olho.
Saímos da estação e começámo-nos a dirigir para o Parque dos Poetas. Passámos por uma data de ruas com as mais diversas montras constituídas pelas mais diversas coisas: pelo menos, aquilo que era do nosso interesse era acessórios, malas, roupa e sapatos; okay, podem parecer coisas fúteis, mas são menos fúteis do que os gostos dos rapazes que são à base de jogos para à PlayStation e para o computador.
Entrámos na Stradivarius, na Bershka e na Pull&Bear - como o habitual -, assim como na Parfois e outras lojas de acessórios, também entrámos na Segue para vermos as malas.
“Seleccionámos” algumas roupas e outras coisas para que quando chegasse a hora de ir para casa passássemos por lá a ir buscá-las, encontrara um vestido lindo florido que combinado com a pequena mala preta que vira na Segue e com as sandálias pretas da Bianca ficaria simplesmente perfeito!
Passámos por uma pastelaria e entrámos para pedir um café.
- Olha, eram quatro cafés, se faz favor - dirigiu-se a Caitlyn ao empregado que deveria ser da idade do meu irmão.
- É para já! - Virou-se para trás e piscou-lhe o olho. - Assim só por acaso vocês não são da Secundária de Cascais?
- Somos sim, porquê? - Inquiriu a Cayt.
Eu, a Dee e a Ann afastámo-nos enquanto ela estava tão entretida com o dito rapaz, nem deu por nós enquanto nos escapulíamos.
- Uh, que bem, que bem - comecei.
- Sim, também acho! Já estava mais que na altura de ela passar à frente daquele, daquele… daquele! - Concordou a Deanna.
- E olhem que o rapazinho até que é bem jeitoso… - Sempre a mesma Anna, bem de olho nos rapazes e respectivas qualidades ou defeitos.
Por acaso, ela tinha razão. Ele era bastante giro mesmo! Notavam-se os abdominais por baixo da camisola branca justa que era usada como uniforme; era moreno e tinha olhos verdes; devia de ter cerca de um metro e setenta e sete e quanto ao seu peso não faço a mais pequena ideia - porque tendo em conta que tinha uns bons músculos poderíamos calcular um peso, mas até nos poderíamos enganar consideravelmente por causa da massa muscular…
- A Cayt anda a evoluir bem, anda!
E começámos a rir, demasiado alto, porque ela notou e veio-se sentar connosco na mesa.
- Do que é que vocês se tão a rir tanto?
- Então os cafés? - Inquirimos.
- Ah, ele já os cá vem trazer porque estava a fazer outra coisa.
- Então e era o quê? Namoriscar contigo? - Perguntou a Deanna piscando os olhos.
- Não! Tanto que ele agora ainda é capaz de demorar um bocado e… - calou-se porque ele já estava a vir na nossa direcção.
- Aqui estão os cafés para umas colegas lá da escola - piscou o olho à Cayt - nunca vos vi lá! - E dirigiu-se a nós as três.
- Oh, é capaz de ser normal, tendo em conta que entrámos agora para o 10º e a apresentação só foi ontem. És de que turma? - Perguntou a Anna.
- Sou do 12ºD.
- Então és da turma do meu irmão! - Meu deus, como o mundo era pequeno.
- Como é que se chama o teu irmão?
- É o Christopher Davis.
- Ah, eu dou-me bué bem com ele! Aliás, começámo-nos a dar agora já no fim das férias, porque antes até nem nos dávamos muito… eu também era um bocado parvo - E fechou a boca numa linha recta.
- Calma… como é que te chamas mesmo?
- Edward Stuart.
- Ah, já sei! Tu chegaste a ir a uma festa lá em casa, não foi?
- Yap, é capaz de ser por isso que as vossas caras não me são estranhas.
- Sim, já me lembro de ti! - E ao dizer isto, a Cayt sorriu.

Capítulo 7 - Um Banco na Estação



Chegara à estação de comboios antes da hora - não me queria arriscar a ter de esperar mais meia-hora até aparecer outro comboio que fosse na direcção de Oeiras.
Avistara um banco vazio e dirigira-me a ele na esperança de que se passasse algum tempo sentada iria conseguir repor as minhas ideias em ordem, mas como me enganava: quantos mais segundos eu passava sentada naquele banco, mais confusa me sentia! O Ethan só servira para me baralhar ainda mais o sistema, porque agora em vez de ter um rapaz em que pensar tinha dois!
Enquanto deixava os meus pensamentos vaguear, parecera-me ouvir chamarem por mim, mas podia sempre ter sido um pensamento a falar um pouco mais alto, e permaneci precisamente na mesma posição, continuando a dar liberdade ao rumo dos meus pensamentos.
Senti uma mão no meu ombro. Dei um pulo e um pequeno grito. Olhei para trás e vi-o outra vez:
- Hey, calma. Não precisas de te assustar! - Sorriu com um ar travesso. - Acho que não sou assim tão feio.
- Pois não… - ele sorriu - és pior! - E ri-me com verdadeira disposição para tal.
Por muito que eu não quisesse, a sua presença agradava-me e achava o seu sorriso contagiante.
- Ah é? Está bem então! - Fingiu amuar e começou a andar para longe.
Levantei-me e dei dois ou três passos de corrida para o apanhar. Não queria que ele se fosse embora - sem saber bem qual o motivo desse desejo.
- Vá, desculpa - dei-lhe um beijo na cara.
- Podias ser um pouco mais convincente - e olhou-me de soslaio, com o mesmo sorriso de quando chegara.
- Eh pá, esquece.
Virei costas e dirigi-me novamente para o banco onde me tornei a sentar. Lá estava ele a estragar tudo com a mesma conversa! Outra vez.
Desta vez, evitou um contacto físico e sentou-se, simplesmente, de lado na outra ponta do banco estabelecendo unicamente um contacto visual comigo.
- Importas-te de parar de olhar para mim? É que não é confortável.
- Tu não entendes mesmo, pois não?
- O que é que há para entender? - Já não estava a perceber nada.
Felizmente, o comboio chegou e consegui escapar-me àquela conversa que não me estava a agradar nem um pouco. Mas o rapaz sentia-se bem? Que raio de conversa vinha a ser aquela!?
- Michelle, eu... - interrompi-o.
Levantei-me dum salto, peguei na minha mala e deixei cair tudo. Baixei-me para apanhar e o Ethan também me ajudou, disse-lhe que não era necessário mas ele ignorou-me.
Continuei a arrumar as minhas coisas, peguei na mala (que desta vez tinha o fecho corrido) pela alça e pus-me no encalço do comboio.
- Espera Michelle!
- Tenho de ir Ethan, tenho pessoas à minha espera, depois falamos - e saltei para a entrada do comboio antes que ele partisse.
Sentei-me ansiando por algum descanso. Tentei evitar deixar os meus pensamentos fluir, mas era uma missão demasiado complicada para uma mente já tão exausta como a minha. Se aquando de me ter sentado no banco da estação, a minha cabeça já estava um verdadeiro caos, agora estava ainda pior. Quando me sentara na estação, pensara apenas em pequenos aspectos de sexta-feira; porém, agora, existiam também questões como o facto de me sentir bastante bem e tranquila quando estava perto dele, assim como simplesmente amava o seu sorriso.
Recebi uma mensagem: "Não podes fugir eternamente de mim, Michelle. Gostava tanto que te deixasses estar algum tempo comigo sem te retraíres. A sério. Gostava de conhecer o teu verdadeiro ser. Porque é que usas esta capa?", Ethan - bem, era melhor guardar o número, ao menos assim cada vez que abrisse uma mensagem dele já saberia mais ou menos o que me esperava... Ele não estava à espera de uma resposta, eu sabia que não, porque ele estava convencido que sabia perfeitamente aquilo que estava a dizer. E realmente sabia. Não sei como, mas ele no fundo sabia mesmo o que se passava comigo sem fazer a mínima ideia disso.
Olhei pela janela. Será que ele ficara a ver o comboio afastar-se?

Caderno

Agora os textos vão sendo sempre escritos conforme vou tendo inspiração para eles. Arranjei um caderninho onde vou escrevendo sempre os capítulos antes de os passar para aqui.
Espero que gostem ♥

Capítulo 6 - Comboios Inesperados



Dirigi-me até ao meu quarto e meti-me na casa-de-banho para tomar um banho rápido. Quando saí e abri a porta que se interpunha no acesso ao meu quarto, enrolada na toalha, deparei-me com o meu irmão deitado em cima da cama:
- A sério Mich, que se passa? - O seu olhar demonstrava preocupação.
- Não se passa nada Chris, porquê?
- Hoje pareces-me distante... Sabes que podes confiar em mim, mana - tentou sorrir, mas as rugas, de preocupação, que se formavam na sua testa não eram capazes de omitir o amor fraternal de um irmão mais velho.
- Não te preocupes, a sério, está tudo bem! - Sorri. - É só um rapaz da minha turma, que... - Bolas, já tinha falado demais!
- Um rapaz!? Calma lá! - Levantou-se da cama num salto. - Mas fez-te alguma coisa? Eu vou-lhe à cara, juro que vou!
Aquele era o meu Chris. Provavelmente um dos rapazes mais cobiçados da secundária: alto, loiro, musculado, querido, protector. Também era muito teimoso e até um pouco egoísta, mas isso faz tudo parte do encanto.
- Chris, calma, okay? Não foi nada de mais. Ele queria sair comigo, só isso - e comecei-me a rir.
- Oh, então qual era o problema? - Inquiriu-me. - Podia ser que te ajudasse a esquecer esse Landon de uma vez por todas.
- Eu já não sinto nada por ele - fiquei bastante séria, de um momento para o outro.
- Sim, percebe-se perfeitamente isso, pela tua cara, Michelle...
- Sai, se faz favor.
- Michelle... Desculpa, foi sem intenção...
- SAI!
Continuei a despachar-me como se nada tivesse acontecido, ou pelo menos, a tentar ignorar. Por muito que tentasse pensar que o meu irmão estava enganado, eu no fundo, sabia que ele tinha toda a razão em dizer aquilo - eu própria pensara nisso enquanto voltava para casa, na sexta-feira.
Tentando abstrair-me desse assunto acabei por optar por uma túnica de alcinhas aos quadrados castanhos e brancos com umas leggins castanhos, calcei umas sandálias de salto alto na esperança de não precisar de correr e coloquei todas as minhas coisas na minha mala castanha, incluindo a máquina fotográfica - porque todos os momentos merecem ser recordados.
Mal sabia eu o que me esperava...

Mais de um mês!

Okay, peço imensas imensas imensas desculpas por ter estado precisamente um mês e quatro dias sem escrever nada na fic, mas agora vou aproveitar as Férias da Páscoa para ver se escrevo um bocado mais nem que seja para depois ir postando aqui mais regularmente!
Beijinhos e desculpem! É hoje